Fazer acontecer


Há histórias que nos acompanham a vida inteira. Não porque sejam grandiosas, mas porque guardam, nos detalhes mais simples, a essência de quem somos.
Esta é uma dessas histórias — uma porta verde num carro vermelho, um improviso que salvou o dia, e a prova de que, muitas vezes, o mais importante não é ter a solução perfeita, mas ter a coragem de fazer acontecer.

Sempre fui de resolver problemas. Não digo que tenha sempre encontrado a solução mais perfeita ou mais bonita. Mas encontrei sempre uma solução. E, no fundo, é isso que conta: fazer acontecer.

Lembro-me de ter uns vinte anos, acabada de entrar no mercado de trabalho. O meu primeiro carro tinha sido muito velhinho e gastava imenso combustível — por isso, só o tive durante pouco tempo. Nessa altura, já conduzia o meu segundo carro: um Fiat Uno vermelho, que para mim era um orgulho.

Num desses dias, no estacionamento da empresa onde trabalhava, ao fazer marcha-atrás, bati com a traseira na esquina de um camião. O vidro da porta partiu-se todo e espalhou-se para todo o lado.

Fiquei ali a olhar para aquilo, sem muito dinheiro no bolso e sem saber, por segundos, como iria resolver. Mas o “por segundos” é literal, porque logo a seguir já estava a pensar no próximo passo.

Havia uma sucateira nas imediações. Fui lá, comprei a porta inteira — verde, por sinal — por 16 contos. Troquei-a e, durante uns dias, andei por aí com um carro “camaleão”: metade vermelho, metade verde. Mais tarde, pintei. Problema resolvido.

Talvez não fosse a solução mais elegante, mas era a possível. E era a que me permitia continuar a andar. E é isso que tenho feito toda a minha vida: andar. Não esperar pela solução perfeita, mas encontrar uma que me permita seguir em frente.

Porque, no fundo, só percebemos se uma decisão foi a melhor muito tempo depois de a termos tomado. E, nessa altura, já não dá para voltar atrás. O que dá é para ter orgulho no simples facto de ter agido, de não ter ficado parada, de não ter deixado que um contratempo se transformasse num bloqueio.

Fazer acontecer não é magia, é escolha. É levantar a cabeça, olhar para o que há, e trabalhar com isso. É saber que, mesmo que a solução venha pintada de verde quando tudo à volta é vermelho, o importante é que funcione.

E, no fim, é essa capacidade que nos leva adiante — porta a porta, estrada a estrada, decisão a decisão.

“A vida não espera pela solução perfeita — e eu também não.”

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